segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"con el alma aferrada a un dulce recuerdo"

"(...) quando enfim penso que estou me acostumando, que estou te esquecendo, você ressurge de forma inesperada, ocupando todos os espaços, transbordando de dentro de mim."
abreu, caio fernando

essa coisa incessante de todos os domingos. domingo que tá sempre pronto para começar, de novo, a semana. domingo que faz pensar que são mais 6 dias pela frente, até a próxima. domingo que me faz lembrar o que me foi tomado, o que se tomou. domingo que me faz lembrar da terça-feira. a ferida se mostra como se nunca houvesse intenção de cicatrizar. sempre maior, pronta para engolir.

sábado, 21 de agosto de 2010

"(...) o que eu via era a vida me olhando."

penso que a vida pode ser, mesmo, uma barata. sim, uma simples barata. tudo isso pode parecer estranho, mas a maioria das pessoas tem medo de barata. medo, nojo, ou o que quer que seja, não importa. de qualquer forma, são sentimentos que nos fazem querer distância do inseto.

por medo, nós a matamos. por medo da vida e do que ela pode nos causar - na verdade, não pode nos causar nada, assim como a barata. esse nada não é o nada no sentido real da palavra. falo sobre algo que nos faça mal, prejudique ou coisa assim. a vida não foi feita para isso, a menos que você plante as ervas daninhas de seu próprio jardim. de qualquer forma, pelo menos a existência(?) da vida - ou da barata - é algo que independe de mim, de você, ou de quem quer que seja. então, penso que não se deve fugir, nem matar. deixe-a ser. por favor, só deixe-a ser.


(re)lendo A Paixão Segundo G.H. - Clarice Lispector

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

"desilusão, desilusão... danço eu, dança você, na dança da solidão."

por que será que algumas pessoas tem a necessidade de mostrar como - ilusoriamente - é? ilusoriamente porque talvez seja somente para si, ou nem mesmo para si, mas para enganar aos outros. será que foge ao pensamento que as máscaras caem, a verdade aparece e a realidade é exposta aos nossos olhos quando chega a hora de lavar o rosto?

não me canso de dizer que há um gosto amargo na desilusão, e é tão amargo que as nossas ideias parecem também amargar. o doce desanda, não sai como se era esperado, e não há coisa pior nessa vida que um doce ruim. eu culparia a expectativa, expectativa que pertence somente a nós e não há mais culpados nesse crime. expectativa que existe ao nos permitirmos a invasão do outro. ao deixarmos que passem pela porta de entrada e, talvez, deixarmos até que fiquem. há aqueles que ficam porque são corajosos, afinal, pessoas são somente pessoas. costumo dizer que defeitos não são defeitos, são apenas características que não transcendem outras. mania desumana essa de apontar as falhas pessoais dos outros.

deixe viver. eu não preciso mais escutar "eu sou assim" e "eu não sou assim". o tempo se encarrega dessas coisas mais simples de definição, mesmo que nada esteja definido. se vier me dizer que definições existem, principalmente que você, pessoa,  tem por definição própria isso ou aquilo, se apresentando como o que quer que seja, vou entender como mais-um-no-mundo. nesse mundo aí que vemos hoje. mundinho em que as pessoas se auto-afirmam muito boas, muito responsáveis, muito coerentes, de caráter inquestionável e, depois, quando são postas ao fogo das situações, ao que realmente importa na relação humana, a tal personalidade vem abaixo. só o que transparece é que são muito menos humanas do que poderiam ser. o SER se esvai como se nunca tivesse existido.

"Se pudesse, hoje, varria, isso mesmo, varria as pessoas todas com vassoura, como se fossem ciscos." (Adélia Prado em Solte os Cachorros)

de uma varredura fica somente o que for pra ficar. e, nada, nada volta. tudo bem que pode ser como uma descarga, e que descargas às vezes possam entupir e trazer de volta o que não deveriam trazer, como quase diria caio. mas hoje quero varrer todas aquelas pessoas que não souberam ser o mínimo. mínimo, simples e suficiente. eu não costumo pedir muito mesmo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"(...) dentro de um corpo fechado no vácuo de um quarto no espaço sem fim"

e, de tanto implodir, surge a confusão. confusão? sim, confusão. um emaranhado de ideias, conceitos e achismos que resultam na personificação do ponto de interrogação. ponto esse que vem sendo meu companheiro há algum tempo.

me perco todos os dias nessa constante fome de entendimento que vivo. tentar entender não é algo que cabe a qualquer um. entender é vasto, pode te levar a vários caminhos, alguns sem saída alguma. becos escuros e silenciosos, que plantam a angústia em nossa alma e nos dilaceram um pouco mais a cada dia.

há uma balança em mim. uma balança que sempre pesou os valores de cada palavra, ação ou o-que-quer-que-seja. tudo bem, ela pode não estar configurada, assim como essa alma que vos fala, mas não tinha o costume de falhar. estar de mãos atadas é desregular o nosso próprio sistema de sobrevivência, que é como um copo cheio d'água que só espera a última gota para transbordar, ou não.

tudo bem, que se dane essa tal balança, ela não serve de nada quando o problema encontra-se no coração. coração é aquilo que a gente não regula, entende? não, não entende. já disse que entender é vasto, então para os covardes isso não existe. mas vamos deixar os covardes para lá, esses não arriscam pela vida e não se encaixam no assunto em pauta. ou se encaixam, não sei dizer ao certo. talvez nem seja covardia, e sim um artifício para simplesmente usar outro ser humano. usar outra pessoa também pode ser covardia? talvez. mas o talvez não deveria existir, não há vida com esse tal de "talvez". não trabalho com incógnitas, então que elas se afastem de mim.

posso morrer de novo, mas não tenho medo dessa coisa que a gente chama de morrer. a gente pode morrer, desde que se viva. ah, viver, também tenho fome de viver. não se entrega os pontos quando se está no comando da própria existência, então pode ser que eu já esteja pronta para encarar tudo isso. tudo bem, eu me pergunto o que é "tudo isso", mas também não sei responder. tudo isso pode ser só um castelo construído para alguém que nunca existiu, mesmo que exista. alguém que foi criado através das expectativas que sempre temos ao nos relacionarmos com seres humanos, que às vezes nem são tão humanos assim, mas "o que se há de fazer?".

o mundo não deixa de girar para que possamos limpar nossa casinha, cuidar do jardim, e organizar esse emaranhado de ideias pode ser uma tarefa difícil. mas, se o mundo não para, vamos viver. melhor se arrepender, mas com certeza sobre as coisas. a interrogação pode virar um ponto final, não há nada melhor do que entender o que se vive, e aqui vou eu.

domingo, 1 de agosto de 2010

exterior? não, não agora, obrigada.

uma vez disse a alguém que preciso aprender a exteriorizar minhas emoções. não, me enganei, não preciso. não há o que exteriorizar quando tudo acontece aqui dentro. a beleza do que implode pode vir a ser superior do que o que já explodiu.

não sinto a necessidade de dizer-lhe o que sinto se te abraçar forte ou simplesmente passar os dedos, num gesto de carinho, entre os fios de seu cabelo. não há motivos para dizer o que me angustia se te colocar um olhar pesaroso.

as palavras. ah, as palavras. essas podem não fazer o menor sentido quando o que aquece meu coração é somente o sorriso que surge em seu rosto em exatos momentos dessa vida.

saudade sufoca e congestiona as ideias, clarice dizia que é como fome (sim, citarei meus autores preferidos sempre que houver sentido), declaro que saudade é o meu ponto fraco.

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade. (…) Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
(A dor que dói mais - Martha Medeiros)

saudade dói como nenhum outro sentimento possa doer em todo nosso existir. ou viver, como preferir. toda essa coisa contínua da vida pode até pregar uma ponta de arrependimento sobre algo, mas não há o que se arrepender quando não se pode fugir do que se é.

meu silêncio é uma das melhores coisas que em mim existem. posso querer gritar quando acho que não mais aguentarei conviver com as pessoas, mas as palavras desvanecem. o que fica é o cheiro que nos faz recordar, o gesto de carinho e o brilho existente nos olhos.

as coisas que saem de nós já não nos pertencem, então não irei ao exterior.