terça-feira, 21 de dezembro de 2010


Anseio pelo dia em que a saudade dos seus olhos seja apenas instantânea. Pelo dia em que meus ouvidos deixem de sentir falta da tua voz. Também anseio pelo dia em que eu possa respirar sem que sua ausência, que agora pode ser chamada de meia-presença, dilacere a alma.

O tempo da gente é só nosso. Tempo que, às vezes, insiste em não passar. As estações se foram, mas você continua aqui. Amanhã começa mais uma, talvez um novo ciclo. E você, quando vai passar?


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Um punhado de esperanças inúteis e frustrações


Devo estar abraçando minha loucura. Abraçando como se fosse mais que isso. É mais que uma espera, mais que uma certeza de que as coisas poderiam ter dado certo. É mais que isso, eu sei. Não é preciso arranjar pretextos, inventar situações, forjar caminhos. E também não é necessário haver um meio de comunicação direto, se o silêncio insistir em prevalecer. Quando se existe um meio direto de comunicação e, mesmo assim, há o silêncio, é melhor que o meio não exista. Pode ser mania de ilusão, mas desta forma a gente se permite pensar que não há um modo fácil de chegar até onde se quer chegar. Que há lutas até contra si mesmo. Finge que não há a indiferença do outro lado. Finge até que as coisas vivenciadas foram verdadeiras...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010


Como se não houvesse segurança para ir, buscar, e vir - e não há. Como se do outro lado já estivesse tudo enterrado, mas do lado de cá as feridas continuam vivas e famintas, como plantas carnívoras. Que as feridas fossem o único problema, pois alguma coisa acaba se encarregando delas. Mas ainda há a vontade, o suspiro ao imaginar como se mostram os olhos do lado de lá. Ah, belos olhos... Imagina a situação como um desastre natural, desses que ouvimos falar todos os dias: acontecem com rapidez e devastam completamente a área atingida. Sufocada, só fica aqui parada e perguntando: "Até quando?".


terça-feira, 16 de novembro de 2010

fragmentos do que seria uma coisa só

(uma junção de trechos - talvez os melhores - de Caio Fernando Abreu)

"Olha, eu estou te escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa.". Sabe, "Seria apenas mais uma história, se não tivesse tocado a alma.". E "Pensar nisso ainda incomoda; é incrível como algumas coisas deixam marcas, e até parece que foram marcadas à ferro, porque você ainda as sente.". O tempo não perdoa. Há algum tempo, pelo menos comigo, costumava tirar as coisas do foco. Mas ainda hoje tenho vontade "de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.".

Ainda costumo me perguntar "até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia". Às vezes penso "que um dia a gente vai se encontrar de novo, e então, tudo vai ser mais claro, não vai mais haver medo nem coisas falsas.".

"E até me pergunto se não é sorte também estar do lado de fora dessa roda besta que roda sem fim, sem mim." Porque "Não há nada (nem ninguém) tão maluco quanto as mulheres. Soa machista? Mas é numa boa.".

Talvez seja necessário "aprender a ser humilde. A engolir os nãos que a vida te enfia goela abaixo.". "Bobagens? pois é, se quiser ria como você costuma rir para se defender. Não estou me defendendo de nada.". E "Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro.". É inegável que "Sinto uma falta absurda de você. Ficou um vazio que ninguém (pre)enche, e penso e repenso e trepenso em você aí.". Mas não é que eu "Não que eu queira te esquecer, eu preciso.". Talvez a necessidade de esquecimento não seja tão grande quanto a vontade de rever. Mas, só fico aqui de longe, "olhando você, sem dizer nada. Só olhando e pensando: meu Deus, mas como você me dói de vez em quando.".

Conversas não resolvem. Meias voltas são inúteis, as coisas feitas são irremediáveis. E "Quando se deseja realmente dizer alguma coisa, as palavras são inúteis. Remexo o cérebro e elas vêm, não raras, mas toneladas.".

Me encontro "um pouco mais duro e menos preocupado em entretecer ternuras.". Talvez por esperar o que não pode - e não vai - vir. Procuro refúgio e "encho a cara sozinha aos sábados esperando o telefone tocar, e nunca toca.". A verdade é que "Esperar dói. Esquecer dói. Mas não saber se deve esperar ou esquecer é a pior das dores.", e até por saber que "uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros. (Silêncio)". Ah, ilusão, olha você de novo por aqui.

Mas eu "Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou.", e eu fico aqui "Sem fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros.", sobretudo a de meu controle. Repetindo, assim como a gente esmurra pontas de faca, que "Seria apenas mais uma história, se não tivesse tocado a alma.". Coisas tolas para alguns, mas de quê importa?

"Os agostos haviam invadido setembro, avançado sobre outubro, até descolorir o novembro que ia em meio.". Ainda sim, depois de procurar incessantemente - e sem bons resultados - a saída desse abismo, "Não quero me tornar uma pessoa pesada, frustrada, amarga. Não vou me tornar assim.". Talvez as coisas não tenham passado porque "Às vezes a gente vai-se fechando dentro da própria cabeça, e tudo começa a parecer muito mais difícil do que realmente é.", mas "Cada um tem seus processos, você precisa entender os seus.".

"Seja como for, continuo gostando muito de você - da mesma forma.". Se algum dia, por descuido seu, eu ainda passear por seus pensamentos, "Me mande mentalmente coisas boas, estou tendo uns dias difíceis.". Dias difíceis desde que você se foi.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

onde você mora? na beira... na beira do abismo

ponta daqui, ponta de lá. exclui-se o meio termo, o morno e o que não apetece. me interessam somente as coisas que queimam.

pode queimar de dor, ou queimar no mais alto estado de felicidade. queime.

que me faça feliz como se fosse a primeira vez. se for para doer, que doa como se a dor não tenha planos de cessar.

deixe tudo queimar, queimar nos sentidos extremos. deve-se provar do gosto que a vida tem. a sensação de beirar o abismo é excitante.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"con el alma aferrada a un dulce recuerdo"

"(...) quando enfim penso que estou me acostumando, que estou te esquecendo, você ressurge de forma inesperada, ocupando todos os espaços, transbordando de dentro de mim."
abreu, caio fernando

essa coisa incessante de todos os domingos. domingo que tá sempre pronto para começar, de novo, a semana. domingo que faz pensar que são mais 6 dias pela frente, até a próxima. domingo que me faz lembrar o que me foi tomado, o que se tomou. domingo que me faz lembrar da terça-feira. a ferida se mostra como se nunca houvesse intenção de cicatrizar. sempre maior, pronta para engolir.

sábado, 21 de agosto de 2010

"(...) o que eu via era a vida me olhando."

penso que a vida pode ser, mesmo, uma barata. sim, uma simples barata. tudo isso pode parecer estranho, mas a maioria das pessoas tem medo de barata. medo, nojo, ou o que quer que seja, não importa. de qualquer forma, são sentimentos que nos fazem querer distância do inseto.

por medo, nós a matamos. por medo da vida e do que ela pode nos causar - na verdade, não pode nos causar nada, assim como a barata. esse nada não é o nada no sentido real da palavra. falo sobre algo que nos faça mal, prejudique ou coisa assim. a vida não foi feita para isso, a menos que você plante as ervas daninhas de seu próprio jardim. de qualquer forma, pelo menos a existência(?) da vida - ou da barata - é algo que independe de mim, de você, ou de quem quer que seja. então, penso que não se deve fugir, nem matar. deixe-a ser. por favor, só deixe-a ser.


(re)lendo A Paixão Segundo G.H. - Clarice Lispector

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

"desilusão, desilusão... danço eu, dança você, na dança da solidão."

por que será que algumas pessoas tem a necessidade de mostrar como - ilusoriamente - é? ilusoriamente porque talvez seja somente para si, ou nem mesmo para si, mas para enganar aos outros. será que foge ao pensamento que as máscaras caem, a verdade aparece e a realidade é exposta aos nossos olhos quando chega a hora de lavar o rosto?

não me canso de dizer que há um gosto amargo na desilusão, e é tão amargo que as nossas ideias parecem também amargar. o doce desanda, não sai como se era esperado, e não há coisa pior nessa vida que um doce ruim. eu culparia a expectativa, expectativa que pertence somente a nós e não há mais culpados nesse crime. expectativa que existe ao nos permitirmos a invasão do outro. ao deixarmos que passem pela porta de entrada e, talvez, deixarmos até que fiquem. há aqueles que ficam porque são corajosos, afinal, pessoas são somente pessoas. costumo dizer que defeitos não são defeitos, são apenas características que não transcendem outras. mania desumana essa de apontar as falhas pessoais dos outros.

deixe viver. eu não preciso mais escutar "eu sou assim" e "eu não sou assim". o tempo se encarrega dessas coisas mais simples de definição, mesmo que nada esteja definido. se vier me dizer que definições existem, principalmente que você, pessoa,  tem por definição própria isso ou aquilo, se apresentando como o que quer que seja, vou entender como mais-um-no-mundo. nesse mundo aí que vemos hoje. mundinho em que as pessoas se auto-afirmam muito boas, muito responsáveis, muito coerentes, de caráter inquestionável e, depois, quando são postas ao fogo das situações, ao que realmente importa na relação humana, a tal personalidade vem abaixo. só o que transparece é que são muito menos humanas do que poderiam ser. o SER se esvai como se nunca tivesse existido.

"Se pudesse, hoje, varria, isso mesmo, varria as pessoas todas com vassoura, como se fossem ciscos." (Adélia Prado em Solte os Cachorros)

de uma varredura fica somente o que for pra ficar. e, nada, nada volta. tudo bem que pode ser como uma descarga, e que descargas às vezes possam entupir e trazer de volta o que não deveriam trazer, como quase diria caio. mas hoje quero varrer todas aquelas pessoas que não souberam ser o mínimo. mínimo, simples e suficiente. eu não costumo pedir muito mesmo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"(...) dentro de um corpo fechado no vácuo de um quarto no espaço sem fim"

e, de tanto implodir, surge a confusão. confusão? sim, confusão. um emaranhado de ideias, conceitos e achismos que resultam na personificação do ponto de interrogação. ponto esse que vem sendo meu companheiro há algum tempo.

me perco todos os dias nessa constante fome de entendimento que vivo. tentar entender não é algo que cabe a qualquer um. entender é vasto, pode te levar a vários caminhos, alguns sem saída alguma. becos escuros e silenciosos, que plantam a angústia em nossa alma e nos dilaceram um pouco mais a cada dia.

há uma balança em mim. uma balança que sempre pesou os valores de cada palavra, ação ou o-que-quer-que-seja. tudo bem, ela pode não estar configurada, assim como essa alma que vos fala, mas não tinha o costume de falhar. estar de mãos atadas é desregular o nosso próprio sistema de sobrevivência, que é como um copo cheio d'água que só espera a última gota para transbordar, ou não.

tudo bem, que se dane essa tal balança, ela não serve de nada quando o problema encontra-se no coração. coração é aquilo que a gente não regula, entende? não, não entende. já disse que entender é vasto, então para os covardes isso não existe. mas vamos deixar os covardes para lá, esses não arriscam pela vida e não se encaixam no assunto em pauta. ou se encaixam, não sei dizer ao certo. talvez nem seja covardia, e sim um artifício para simplesmente usar outro ser humano. usar outra pessoa também pode ser covardia? talvez. mas o talvez não deveria existir, não há vida com esse tal de "talvez". não trabalho com incógnitas, então que elas se afastem de mim.

posso morrer de novo, mas não tenho medo dessa coisa que a gente chama de morrer. a gente pode morrer, desde que se viva. ah, viver, também tenho fome de viver. não se entrega os pontos quando se está no comando da própria existência, então pode ser que eu já esteja pronta para encarar tudo isso. tudo bem, eu me pergunto o que é "tudo isso", mas também não sei responder. tudo isso pode ser só um castelo construído para alguém que nunca existiu, mesmo que exista. alguém que foi criado através das expectativas que sempre temos ao nos relacionarmos com seres humanos, que às vezes nem são tão humanos assim, mas "o que se há de fazer?".

o mundo não deixa de girar para que possamos limpar nossa casinha, cuidar do jardim, e organizar esse emaranhado de ideias pode ser uma tarefa difícil. mas, se o mundo não para, vamos viver. melhor se arrepender, mas com certeza sobre as coisas. a interrogação pode virar um ponto final, não há nada melhor do que entender o que se vive, e aqui vou eu.

domingo, 1 de agosto de 2010

exterior? não, não agora, obrigada.

uma vez disse a alguém que preciso aprender a exteriorizar minhas emoções. não, me enganei, não preciso. não há o que exteriorizar quando tudo acontece aqui dentro. a beleza do que implode pode vir a ser superior do que o que já explodiu.

não sinto a necessidade de dizer-lhe o que sinto se te abraçar forte ou simplesmente passar os dedos, num gesto de carinho, entre os fios de seu cabelo. não há motivos para dizer o que me angustia se te colocar um olhar pesaroso.

as palavras. ah, as palavras. essas podem não fazer o menor sentido quando o que aquece meu coração é somente o sorriso que surge em seu rosto em exatos momentos dessa vida.

saudade sufoca e congestiona as ideias, clarice dizia que é como fome (sim, citarei meus autores preferidos sempre que houver sentido), declaro que saudade é o meu ponto fraco.

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade. (…) Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
(A dor que dói mais - Martha Medeiros)

saudade dói como nenhum outro sentimento possa doer em todo nosso existir. ou viver, como preferir. toda essa coisa contínua da vida pode até pregar uma ponta de arrependimento sobre algo, mas não há o que se arrepender quando não se pode fugir do que se é.

meu silêncio é uma das melhores coisas que em mim existem. posso querer gritar quando acho que não mais aguentarei conviver com as pessoas, mas as palavras desvanecem. o que fica é o cheiro que nos faz recordar, o gesto de carinho e o brilho existente nos olhos.

as coisas que saem de nós já não nos pertencem, então não irei ao exterior.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

e quando há perguntas a serem feitas e almas esperando por respostas? sim, almas. alma é isso que fica incomodando aqui dentro, entende? só não incomoda se você não a tiver. mas, de que importa? o amargo da desilusão prende o que se tem na boca. aquela coisa que poderia lhe fazer tentar o questionamento, a mínima explicação que fosse, faz mofar. mofar como os morangos de caio. 

fingir que nada acontece é forma de sobrevivência? isso não seria fugir de si? perdão, não aprendi a fugir de mim e, sinceramente, não me interessa aprender.  será que tudo que pulsa aqui dentro só aconteceu em Wonderland? será que a conta, lá no final da vida, fica muito cara pra quem resolveu acreditar nas pessoas? 

tentar entender as pessoas, "sobretudo por causa das pessoas" - como dizia clarice, pode nos fazer acordar no divã do psiquiatra. há piores consequências, como reduzir a pó a crença que ainda deve existir no mundo, mas o que eu não entendo não me interessa. as incógnitas não me apetecem, não se pisa em falso quando a vida é minha. não há o meio do caminho, não há o mais ou menos; todas essas coisas são insuficientes e não nos levam a lugar algum. 

chegar ao tal "lugar algum" não faz parte dos meus planos. poderia dizer que hoje preciso de uma dose de coragem, mas não, eu não preciso. preciso somente que o medo não a sobreponha. talvez seja hora de mudar de assunto ou cair no poço.

"É chegado o momento de encarar as horas." - Virginia, minha Virginia.

domingo, 4 de julho de 2010

o me faz falta, eu e vanessa (da mata)

"nosso sonho se perdeu no fio da vida. e eu vou embora, sem mais feridas, sem despedidas, eu quero ver o mar..."

é estranho pensar na intensa banalização das coisas que hoje ocorre. não digo as pessoas, a maioria está apenas de passagem. falo do que fica, do que a gente sente. não há como sumir com o que se sente. conseguimos, no máximo, tirar do foco. por que não cuidar disso? há dificuldade em não querer deixar olhos rasos d'água quando tudo acaba?

desassossego é o que me move hoje. me perturba essa falta de explicação. o que fazer? qualquer movimento pode definir um acontecimento, mas nada se define quando não há movimento. virginia woolf já dizia que "não se acha a paz evitando a vida", e eu não tenho argumentos para discordar. se não me falha o conhecimento, virginia anotou tal frase em seu diário num momento em que se afastou da cidade para cuidar de problemas de saúde, como depressão - virginia teve, pelo menos, quatro crises enquanto viveu. ela própria reconheceu que não era a saída, mas leonardo insistia. como insistir na reclusão? é insano. adormece, mas não cura. nada acalma quando existe um tornado dentro de si.

"(...) as lembranças, os cheiros, dilacerados."

hoje eu só desejo um mundo mais humano. sei que tudo muda, há em mim o gosto de provar que mudanças acontecem, então que seja pro bem.